Águas coloridas


Quando era pequena, tinha muito medo da água. Para entrar na piscina, só com duas boias, uma em cada braço, e mais uma ao redor da cintura. Não confiava plenamente nessa tecnologia, ainda tinha medo de me afogar, mas desde criança acho que pressentia que nas coisas da vida há duas opções ruins: entrar com medo e equipada, ou não entrar. Meu pai sempre foi um lugar de águas misteriosas, meio exóticas. Sua língua nunca coincidiu com a minha, seu mundo era cheio de sons que não formavam palavras, ou frases, como uma espécie de música. Aprendi a detectar, pelo tom de sua voz, quando ele estava prestes a terminar uma de suas longas conversar em árabe. É agora, ele vai desligar o telefone! Eu e meus irmãos nos olhávamos e ríamos, e comemorávamos internamente nosso domínio sobre essa realidade. A língua é quase toda feita de entonações, de emoções. Acho que por isso nunca busquei dominar aquelas palavras. Sua escrita, esses desenhos tão bonitos, até hoje não sei decifrar. Na minha casa se falava o português, mesmo ele, com seu sotaque. Nunca tentamos ser uma família bilíngue, o árabe era um outro mundo, distante, assustador, bonito. Aprendi a contar até cinco, alguns palavrões e falsos cognatos, o nome de alguns alimentos, e que tudo ali deveria ser lido ao contrário, da direta para a esquerda.

Como toda infância e adolescência, a minha foi estranha à sua maneira. Entre ter que debater teorias filosóficas complexas para justificar minhas idas às baladas, aprender desde cedo que o mundo é feito de dívidas, e por isso não devia temê-las, até descobrir que o amor se mantém de formas estranhas à distância, como um móbile, pendurado, um pouco triste, um pouco comovente. Meu pai invertia o mundo, nada que eu dissesse da esquerda para a direita era suficiente. Batalhei para inverter meu mundo também. Havia algo, algo que ele via, lá onde o Sol nasce e caminha, que sempre me despertou profunda curiosidade. Mas como a filha de James Joyce, ao tentar escrever o que o pai escrevia, acabou psicótica, eu sempre tive medo das águas coloridas em que meus pais pareciam flutuar tão bem.
"Mas aí onde você nada, ela se afoga." Foi o que Jung disse a Joyce, quando ele foi consulta-lo, preocupado com a filha.

Um dos maiores presentes que ganhei do meu pai, foi o que ele não me deu: a tradução incompleta, a distância impossível de atravessar. De alguma forma, por essa clareza, a água já não me assusta como antes. Quando leio seus textos (pois ele é mais ativo que eu nas redes e na escrita), com todas as distorções que o Google tradutor é capaz de incorporar, entendo pouco, mesmo entendendo muito, e preciso inventar. Nunca perco a curiosidade e a desconfiança de que há sempre mais ali. Nesse homem que lê Nietzsche, profundamente, até as entrelinhas, e ri alto, muito alto, como uma montanha feliz, das piadas do Mr. Bean.
Esse é um texto dele, repleto de reflexões filosóficas e teológicas. Ou um belo desenho e uma música, como uma criança poderia sonhar.
رأى نيتشه أن هناك " قدر كبير من القسوة الدينية" وهذا أكثر من بديهي .كانت هناك طرق مختلفة وسلالم متعددة للتقرب من الآلهة في الديانات ألما قبل تاريخية والبدائية. ولكن اعنف تلك الطرق كانت التضحية بالبشر لإرضاء الهتهم ، وربما حتى التضحية باحبهم لقلوب الجماعة أو بالفتاة الأكثر جمالا ! أو كما حدث في المشهد الرهيب عندما ضحى الله نفسه ب "ابنه الوحيد" على الصليب ! وبالمقابل كانت "نذور" تقديم الثمار الأولى لآلهة "طيبة" من طبيعة الأعراق البريئة. وفي جميع الديانات التي تعود إلى عصور ما قبل التاريخ، كانت الآلهة تجسد وتعبر عن الوعي الخاص للعالم لكل جماعة بشرية على حدة. لكنه خلال الحقبة الأخلاقية للبشرية، طلب من المؤمنين التضحية للإله بأكثر غرائزهم عنفًا ، أي التضحية ب"الطبيعة الحيوانية " تحت مراى النظرة القاسية "الشريرة" للكهنة التي يلتمع بها كل ما هو "ضد الطبيعة". ولقد اكتشف اب الأنبياء ابراهيم الخليل "حقيقة" الله في اللحظة التي باشر فيها بالتضحية باعز ما لدية ( إبنه اسحاق أو اسماعيل ) لا فرق. ففي تلك اللحظة بالذات فإنه قطع مع آثار الآلهة القديمة ودخل في رحاب الله الواسعة!
"فماذا بقي ليتم التضحية به؟" يسأل نيتشه. ايكون من الضروري التضحية أخيرا بكل ذلك المزيج من التناغم الخفي بين المقدس والوهم . هذا المزيج الذي يؤمن المواساة والطمأنينة والأمل ؟ ايكون مطلوبا التضحية بالإنسان نفسه؟. إما في الشهادة أو بانتظار نهاية العالم مع عودة السيد المسيح والمهدي المنتظر .ثم الذهاب إلى العدم المحض. هل بلغت هذه النزعة البدائية في الإنسان حد التضحية بالله "سبحانه" من أجل لا شيء ؟ هل حجز هذا اللغز المتناقض من القسوة الأخيرة القصوى لإنسان الحضارة التقنية ولإرادة العدم !
ثمة سؤال يطرح نفسه بالحاح. الا تكون الديانات في العمق هي مشروع حرب دائمة دون هدف غير التضحية والاستشهاد؟ هل من الضروري أن يكون الدم هو الوجه الآخر للمقدس؟
لكل الاصدقاء ولكل المؤمنين
عيد اضحى مبارك وكل عام وانتم بخير