O recente episódio do estupro coletivo da adolescente de 16 anos no Rio de Janeiro reacendeu uma das batalhas mais sangrentas das mulheres contra o sistema patriarcal, a luta pela integridade de seu corpo. As furiosas investidas religiosas e retrógradas na legislação do aborto, a naturalização e espetacularização do estupro e do feminicídio, a erradicação física das mulheres dos ministérios, a valorização do recato e da subordinação pela mídia, são episódios recentes que se inserem em um panorama sombrio, de retrocessos imensuráveis.
Quando me deparo com esse cenário, penso nos homens. Não como indivíduos, mas como ideais, de algo que não consigo alcançar concretamente. Penso nos motivos que os levam a restaurar uma honra perdida, na angústia necessária para mover tamanha violência, nas demandas doentes por provas de masculinidade, nas surras levadas na infância, no medo de não ser forte o suficiente, no pavor da impotência, de perder algo que nunca foi seu, nem de ninguém. Preocupo-me bastante com essa cultura patriarcal e falocêntrica, da força e da velocidade, pois os mais vulneráveis são sempre necessários, como instrumentos, objetos de um gozo mórbido, um dos poucos que restaram, as mulheres e as crianças, para aliviar a sensação de impotência dos homens quando a vida lhes foge do controle. Quando perdem guerras imaginárias, sofrem humilhações diárias, perdem seu reflexo no espelho, perdem seu emprego, perdem sua honra, somos sempre uma forma doentia de reencontro do homem com sua face mais abominável, aquela, fálica, que não aceita limites, que não sabe se abrir ao mundo, à diferença, ao outro, aquela que não compartilha, não escuta e não se entrega, nem ao sofrimento, nem ao amor.
Quando me deparo com esse cenário, penso nos homens. Não como indivíduos, mas como ideais, de algo que não consigo alcançar concretamente. Penso nos motivos que os levam a restaurar uma honra perdida, na angústia necessária para mover tamanha violência, nas demandas doentes por provas de masculinidade, nas surras levadas na infância, no medo de não ser forte o suficiente, no pavor da impotência, de perder algo que nunca foi seu, nem de ninguém. Preocupo-me bastante com essa cultura patriarcal e falocêntrica, da força e da velocidade, pois os mais vulneráveis são sempre necessários, como instrumentos, objetos de um gozo mórbido, um dos poucos que restaram, as mulheres e as crianças, para aliviar a sensação de impotência dos homens quando a vida lhes foge do controle. Quando perdem guerras imaginárias, sofrem humilhações diárias, perdem seu reflexo no espelho, perdem seu emprego, perdem sua honra, somos sempre uma forma doentia de reencontro do homem com sua face mais abominável, aquela, fálica, que não aceita limites, que não sabe se abrir ao mundo, à diferença, ao outro, aquela que não compartilha, não escuta e não se entrega, nem ao sofrimento, nem ao amor.
Digo homens como ideal, pois em muitos momentos, em muitas instâncias, as mulheres não se distinguem dos homens, são, talvez, limitadas por sua força física, e pela cultura que as desencoraja à violência, mas abusam de seus filhos, os espancam, pois as crianças são para elas aquele poço onde se pode, nunca sem dor, reaver um pouco de sua honra perdida. Criam homens ideais que irão restituir a elas tudo que o mundo lhes deve, serão seu braço armado, não de todo incompreensível nesse mundo que lhes traz sofrimento diário, as desvaloriza, as abandona e as violenta. Odiarão suas filhas, de forma sutil, de forma constante, por seus excessos de sexualidade, ou por sua falta, transformarão meninas em homens, e homens em super-homens. Mulheres adultas condenarão suas irmãs ao fogo que pune, ao estupro que corrige, à gravidez que purifica, por sua autonomia e liberdade, por suas escolhas e por sua sexualidade. Pois, infelizmente, o ódio às mulheres, e ao feminino, não discrimina, alastra-se com leveza e gosto, saltando por classe social, gênero, contexto cultural e período histórico.
E os homens adultos, pais, tios, amigos, que direcionam sua energia à conquista do mundo, à ascensão das ladeiras artificiais do capitalismo, são figuras ausentes, fantasmas, que com sua ausência ensinam muito mais do que imaginam. Ensinam o que é ser um homem de família, o que se valoriza em nossa cultura, de quem é o papel de cuidador, quem tem status, ensinam que homens estão pouco disponíveis para os outros e que são capazes de roubar o tempo para si. Os homens, enquanto fantasmas são cronófagos; em sua violência comem o tempo, feminino, de forma antidemocrática, tomam o tempo para si, enquanto reclamam de excesso de trabalho. Tomam o tempo para a construção de um ideal vazio, sem substância. Um ideal masculino, um ideal de poder e invulnerabilidade. Não são eles que levam os filhos doentes ao médico e perdem dias de trabalho, não cuidam do mundo, nem deles mesmos.
O tempo é feminino, anda com autonomia, sem se importunar com a ansiedade, com a fome, com a vida e a morte. O tempo é feminino, pois aceita o que é, e se rende, não se abala em sua caminhar. É devorado por homens em nossa sociedade, pois o tempo é livre, e os desafia, a cada minuto, a cada respirar.
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