Insegurança


Ela consegue subir, apoiando-se na água revolta, engasgando salgada, a espuma assassina. Era um afogamento. Ela. Sozinha. Perdia a vida. A achava.  Perdia novamente.

O mar é calmo.

Afunda como rocha, é cuspida com repulsa. Apoia-se na espuma, uma vez mais, e avista, ao longe, uma onda sobrenatural, que nunca se formaria em alto mar. Não daquele jeito, curvatura perfeita, projeção afiada pronta para cortá-la ao meio. Acena lá do céu; fala com ela. Não sente o golpe, vira chumbo e quase se deixa. Lembra-se pequena, presa em uma sequencia ininterrupta de ondas. O mar não respeitou o acordo, estava abaixo do umbigo, e mesmo assim se vingou, de sua pequenez, insensatez. Onde esta minha mãe?

Nunca se esqueceu. Aprendeu a amar desse jeito. Amou sua mãe, amou o mar. Sem nunca confiar. Assim é que se deve ser. Seguir uma natureza inegociável, energia, movimento. A quebra de acordos, traição.
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Caminha agora. Para a porta, em sua casa. Deve-se fecha-la antes de dormir. Fechar janelas, portas e frestas. Mas há um espectro branco, que quer (?) que precisa (?) que gostaria (?) de entrar.

É um fantasma, de uma velha, uma mulher, com entranhas que se deslocam, somem e reaparecem em seu abdome inchado de parasitas. Frente à última porta, a que finalmente deixaria sua casa segura, ela paralisa.

Onde está meu pai?
Estão todos dormindo.
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Observa agora,  a onda, a mesma, de uma edifício muito alto. Distante. Está segura. Mas onde estão meus irmãos? Ao mesmo tempo sabe que estão vivos, muito longe dali, mas podem tão bem estar mortos, lá embaixo, onde a onda passou. Sente respingos, está há alguns metros desse desastre.

...Espera o recuo....




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